14 de mai. de 2009

Trilogia de Pequenos Contos com Lobos

Com desenhos da autora.

I

stava tão indefesa que o próprio Lobo, sensibilizado, retirou-se da cena, balbuciando desculpas incompreensíveis sob um sorriso amarelo. Comoveu o Lobo chauvinista com doses macisas de ingenuidade crédula. Acabou sozinha na cama. Talvez ainda comemore a vida preservada apesar dos desfeitos sonhos débeis.


II
Foi capaz de perceber o momento justo em que o Lobo se desfez de sua armadura, como uma lesma, e tartamudenado saiu porta afora vestindo seu disfarce. Ao dar-se conta dos riscos corridos, na segurança da cama vazia, surpreendeu-se com o poder da verdade nua, e ainda mais com a estranheza que causa sorrisos ingênuos. Sobreviveu, distraída, e foi cuidar do jardim que mantém no vaso. Pérola aos porcos.

III
Chocado com o risco a que se expôs, o próprio Lobo tratou de gracejar desculpas, de leve, como se nada fosse senão acaso. Foi saindo, vestindo as calças, sorrindo amarelo, com cara de susto. Já na porta virou-se, de certa forma ofendido por livrar-se fácil demais da aventura irresponsável. Queria ser retido. Titubeou. Queria ser querido. Vacilante entre Lobo e seus outros papéis, perdeu o sorriso, perdeu a pose, perdeu a certeza, quando a porta fechou-se atraz de si, com um beijo inacabado e nenhuma promessa. O Lobo, sozinho, já não é Lobo, animal qualquer, sem força, mistério ou atrevimento. Querido, teria medo em deixar-se acarinhar. Solto, livre, lhe amedronta a solidão. Inseguro, busca o que não quer. Não sabe o que quer. Quer ser querido mas não sabe como. Com esta palavra, justamente, pronunciada no feminino ao telefone, despediu-se dias depois, desejando que a noite fosse boa, não mais lobo, agora menino refazendo o caminho.

Misteriosa, 48 anos, artista plástica.

2 comentários:

  1. Finalmente encontro alguém que gosta de
    FADASDADAS,hi,hi.... Interessante o teu trabalho.
    Tenho 1 blog para compartilhar
    Bjs da fada madrinha

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