12 de mai. de 2009

Revisitando a minha memória de menina (parte 1)


uitas estórias me marcaram, mas duas em especial: “O Soldadinho de Chumbo” e “O gato de botas”. Lembro-me de ter um livro grande, de capa dura, quadrado e fino, que eu manuseava e "lia" sempre em voz alta. É bem provável que eu tivesse outros livros, porém esse é o que ficou na minha memória.

Não me recordo de alguém lendo a história para mim. Na minha memória só há espaço para a minha imagem da menina, do livro e da história. De interferências, lembro-me apenas de alguém observando que mesmo sem ler "de verdade", eu lia a história "ipsis litteris". O que quer dizer que alguém muitas vezes deve ter lido a história para mim, mas isso foi para o esquecimento.

Eu sentia muita tristeza pela sina do soldadinho, embora houvesse um certo conforto em saber que o amor que ele sentia pela bailarina era correspondido, mesmo que ele não soubesse disso. O que me movia para o encantamento era a percepção de que as forças sociais (ele era excluído por ter um defeito de fabricação), as naturais (foi levado pela chuva ralo abaixo até alcançar as forças oceânicas), não foram suficientes para separá-lo da bailarina, pois, ao ser engolido por um peixe, o mesmo acaba sendo comprado pela dona da casa aonde vivia a bailarina e, assim, os dois se reencontram.

O fato dos dois serem queimados no fogo da lareira, não me entristecia, pois morriam juntos e reviviam em outro tempo e espaço. A morte deles para mim, na verdade, era uma nova vida.


Débora Brenga, 51 anos, espalhadora de estórias (escritas e orais).

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