28 de jul. de 2010

24 de jul. de 2010

10 de jul. de 2010

O primeiro livro de cada uma de minhas vidas


erguntaram-me uma vez qual fora o primeiro livro de minha vida. Prefiro falar do primeiro livro de cada uma de minhas vidas. Busco na memória e tenho a sensação quase física nas mãos ao segurar aquela preciosidade: um livro fininho que contava a história do patinho feio e da lâmpada de Aladim. Eu lia e relia as duas histórias, criança não tem disso de só ler uma vez; criança quase aprende de cor e, mesmo quase sabendo de cor, relê com muito da excitação da primeira vez. A história do patinho que era feio no meio dos outros bonitos, mas quando cresceu revelou o mistério: ele não era pato e sim um belo cisne. Essa história me fez meditar muito, e identifiquei-me com o sofrimento do patinho feio – quem sabe se eu era um cisne?




Quanto a Aladim, soltava minha imaginação para as lonjuras do impossível a que eu era crédula: o impossível naquela época estava ao meu alcance. A idéia do gênio que dizia: pede de mim o que quiseres, sou teu servo – isso me fazia cair em devaneio. Quieta no meu canto, eu pensava se algum dia um gênio me diria: “Pede de mim o que quiseres.” Mas, desde então, revelava-se que sou daqueles que têm que usar os próprios recursos para ter o que querem, quando conseguem.




Tive várias vidas. Em outra de minhas vidas, o meu livro sagrado foi emprestado porque era muito caro: ‘Reinações de Narizinho’. Já contei o sacrifício de humilhações e perseveranças pelo qual passei, pois, já pronta para ler Monteiro Lobato, o livro grosso pertencia a uma menina cujo pai tinha uma livraria. A menina gorda e muito sardenta se vingara tornando-se sádica e, ao descobrir o que valeria para mim ler aquele livro, fez um jogo de “amanhã venha em casa que eu te empresto”. Quando eu ia, com o coração literalmente batendo de alegria, ela me dizia: “Hoje não posso emprestar, venha amanhã”. Depois de cerca de um mês de venha amanhã, o que eu, embora altiva que era, recebia com humildade para que a menina não me cortasse de vez a esperança, a mãe daquele primeiro monstrinho de minha vida notou o que se passava e, um pouco horrorizada com a própria filha, deu-lhe ordens para que naquele mesmo momento me fosse emprestado o livro. Não o li de uma vez: li aos poucos, algumas páginas de cada vez para não gastar. Acho que foi o livro que me deu mais alegria naquela vida.




Clarice Lispector
"A Descoberta do Mundo" Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1994

4 de jul. de 2010

Era uma vez por Kiara Terra









oi terça- feira feriado, Apresentação de abertura da exposição Era uma vez. Nunca vi tanta gente junta!






A Multidão

O que se pode prever -Daquilo que agente escolhe

Convidei minha querida amiga Elenira (atriz, contadora de histórias, super grávida Linda da Dora! uma pessoa muito, muito verdadeira, que não sabem mentir e que conheço e adoro faz tempo.)


Elenira, com Dora.

E o Marko, musico e ator, que trouxe para essa pesquisa alem de uns olhos azuis de menino e muita disponibilidade para o jogo da improvisação pedais eletricos, escaleta, contra baixo e o que mais precisar....


Marko, surpreza boa !

Enfim, nós três juntos, estudamos as várias versões e leituras sobre os contos de fada e preparamos algumas instruções, para a abertura da exposição:

Instruções, imagens, contato

Queríamos contato com as pessoas antes da história, pensamos quatro instruções:

1.Em troca de um desejo inconfessável escrito pelas pessoas em um papel, entregaríamos um dom como aqueles que as fadas entregaram a Cinderela no batizado.


Um dom por um desejo inconfessável

2. Maçãs ( de dentro da cesta de maçãs saia uma música )


A música das maçãs - instruções sonoras


3. Marko tinha um sapato especial, e estava procurando alguém cujo pé coubesse ali!
Não tenho foto, pois o sapato foi dado de presente, a uma menina que estava por lá.
( dona de pés do tamanho exato!)

A Votação- Qual sua história Favorita?

4. Escolher uma história e votar com a jujuba de cor correspondente a história escolhida.

Escolha...

O risco, o tempo antes do salto , o espaço antes da palavra.

As instruções foram momentos bem próximos das pessoas, dons que caíram como uma luva, o encontro do Marko com sua Cinderela a votação.

A História escolhida pelas pessoas foi Aberta a queima roupa! Esse era o combinado. Havíamos estudado bastante. Estávamos juntos então tudo certo. Até a surpresa da quantidade gigante de pessoas por todo saguão, pais, crianças, adultos de toda idade.

De todos os lados, muito, muito perto. No alto, vendo a história dos andares de cima. O desafio era a escuta as crianças e os olhos. Olhar nos olhos daquelas pessoas.( bom de parte delas )

Senti meu corpo se erguer, se esticar crescer, não sei. Senti um medo que me pôs pra frente. Como o tempo antes do salto.

Me lembrei de minha filha grande, Luiza ( 5 anos ) que faz pouco tempo ( uns dias) descobriu que pra dar uma estrela, é preciso lançar o corpo sobre as mãos, não se pode dar uma estrela, sem jogar o corpo num impulso para cima! Ela, antes apoiava as mão no chão e tentava da estabilidade subir. Depois, percebeu que o voo só e possível se do impulso se lançar. Nesse dia, Luiza se encostou na parede, ficou quieta de olhos fechados o braço se abraçando e disse baixinho:" ai mãe que medo!" Acho que senti naquele dia, medo e um gosto muito grande pelo risco!


Eu e Luiza antes dela saber dar estrela

... Lá fomos nós Abrir João e Maria.

João e Maria caminhos marcados com pão de passarinho comer

Falamos de comida, ser comido, ter fome, ir para a floresta, deixar partir. Construimos travessias.

As crianças contribuíram em menor quantidade ( era impossível ouvir grande parte deles mas quem estava mais perto pode falar ser ouvido e surpreender a " multidão".

Lá pelas tantas Marko tocava e fazia uma movimentação muito estranha. Olhei para as pessoas e perguntei o que era aquilo?




Nós e o bicho Homem!

É o Bicho Homem! disse um menino! Sim á partir dali Marko era ele O bicho Homem com todas as possibilidades de acerto e erro, sempre o bicho Homem!

Empatia na multidão

Encontrei muitos amigos queridos fiquei imensamente feliz quando depois da história, Ana (pela qual tenho admiração enorme e que conhece bem as histórias abertas) me disse que havia uma surpreendente sensação de aconchego mesmo com uma história para aquela multidão toda. Ganhei a tarde...e um monte de sensações e paisagens novas, desse salto que foi essa história.







A história escolhida foi muito potente! Tradição oral sobrevive ao tempo e independente da versão escolhida a narrativa vem cheia de significados pra se desvelar, abrir. Foi um privilégio de ter Le e Marko abrindo a história comigo.

E a todos que estavam lá e que em maior ou menor intensidade participaram.


Nossas coisas

beijo grande

Kiara