30 de mai. de 2009

Num contínuo e interminável “Conto de fadas”...


ara começar, peço licença de contar um pouco o que significou, para a criança que fui, ainda antes de chegar ao Brasil, a constante convivência com a palavra, a literatura, as histórias maravilhosas, encantadas, fantásticas, incríveis, mas sempre “verdadeiras”! Histórias em prosa e em versos, de várias fontes, origens e idiomas, num contínuo e interminável “Conto de fadas”. Histórias que povoavam a minha cabeça, o meu coração, manha imaginação, minhas emoções e, sim, levavam ao pensar! A ponto de contribuírem, sem dúvida, ao desenvolvimento da minha – e não direi precoce – weltanschaung juvenil, ao alimentarem o meu insaciável apetite por mais e mais “alimentos”.

E por que falo aqui da minha experiência pessoal? Por que ela não é pessoal, mas sim, como entendo, geral e coletiva, atingindo todas as crianças que tenham a sorte de ser expostas ao conto maravilhoso, ao conto de fadas – e a todas as outras.


Tatiana Belinky , 90 anos, escritora.

Fragmento colhido do livro O Conto De Fadas (2008) de NELLY NOVAES COELHO. Edições Paulinas, 2008.

29 de mai. de 2009

O homem e seus lobos

Freud explica...


ecordava ele que havia sofrido de um medo na infância, que sua irmã explorava com o propósito de atormentá-lo. Havia um determinado livro de figuras no qual estava representado um lobo, de pé, dando largas passadas. Sempre que punha os olhos nessa figura começava a gritar, como um louco, que tinha medo de que o lobo viesse e o comesse. A irmã, no entanto, sempre dava um jeito de obrigá-lo a ver a imagem, e deleitava-se com o seu terror.

Entretanto, ele se amedrontava também com outros animais, grandes e pequenos. Certa vez estava correndo atrás de uma grande e bonita borboleta, com asas listradas de amarelo e acabando em ponta, na esperança de apanhá-la. De repente, foi tomado de um terrível medo da criatura e, aos gritos, desistiu da caçada. Também sentia medo e repugnância dos besouros e das lagartas. Ainda assim, conseguia lembrar-se de que, nessa mesma época, costumava atormentar os besouros e cortar as lagartas em pedaços. Também os cavalos despertavam nele um estranho sentimento. Se alguém batia num cavalo, ele começava a gritar, e certa vez foi obrigado a sair de um circo por causa disso. Em outras ocasiões, ele próprio gostava de bater em cavalos.

Certa vez em que as crianças ganharam uns confeitos coloridos em forma de bastão, a governanta, que era propensa a fantasias desordenadas, disse que eram pedaços de cobra cortada. Ele lembrou-se, depois, de que o pai encontrara uma vez uma cobra, ao caminhar por uma picada, e a fizera em pedaços com uma vara. Ouviu a história lida em voz alta, de como o lobo queria pescar no inverno e usou a cauda como isca, e como, dessa maneira, o rabo do lobo se congelou e partiu. Aprendeu os diferentes nomes pelos quais se distinguem os cavalos, conforme estejam intactos ou não os seus órgãos sexuais. Assim, ocupava-se com pensamentos sobre a castração, mas ainda não acreditava nela, nem a temia. Outros problemas sexuais surgiram para ele nos contos de fadas com que se havia familiarizado nessa época. No ‘Chapeuzinho Vermelho’ e em ‘Os Sete Cabritinhos’, as crianças eram tiradas do corpo do lobo. Seria o lobo uma criatura feminina, então, ou poderiam os homens ter também crianças dentro do corpo? Nessa época, a questão não se colocara ainda. Mais que isso, na época dessas perguntas ele não tinha ainda medo de lobos.

"Meu Sonho". Sergei Pankejeff, 1964.

Esse foi um sonho que teve na ocasião:

‘“Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. (Meu leito tem o pé da cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite.) De repente, a janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido pelos lobos, gritei e acordei. Minha babá correu até minha cama, para ver o que me havia acontecido. Levou muito tempo até que me convencesse de que fora apenas um sonho; tivera uma imagem tão clara e vívida da janela a abrir-se e dos lobos sentados na árvore. Por fim acalmei-me, senti-me como se houvesse escapado de algum perigo e voltei a dormir.

A única ação no sonho foi a abertura da janela, pois os lobos estavam sentados muito quietos e sem fazer nenhum movimento sobre os ramos da árvore, à direta e à esquerda do tronco, e olhavam para mim. Era como se tivessem fixado toda a atenção sobre mim. - Acho que foi meu primeiro sonho de ansiedade. Tinha três, quatro, ou, no máximo, cinco anos de idade na ocasião. Desde então, até contar onze ou doze anos, sempre tive medo de ver algo terrível em meus sonhos.”

Ele acrescentou um desenho da árvore com os lobos, que confirmava sua descrição. Em todo caso, suas afirmações e atitudes justificam a suposição de que, durante esses anos da sua infância, passou por um ataque de neurose obsessiva, facilmente reconhecível.

A análise do sonho trouxe à luz o seguinte material: Ele sempre vinculara este sonho à recordação de que, durante esses anos de infância, tinha um medo tremendo da figura de um lobo num livro de contos de fadas. Na figura, o lobo achava-se ereto, dando um passo com uma das patas, com as garras estendidas e as orelhas empinadas. Achava que a figura deveria ter sido uma ilustração da história do “Chapeuzinho Vermelho”.

‘Por que havia seis ou sete lobos? Não parecia haver resposta para esta pergunta, até eu levantar uma dúvida sobre saber se a figura que o assustava estava vinculada à história de “Chapeuzinho Vermelho”. Este conto de fadas só oferece oportunidade para duas ilustrações - Chapeuzinho Vermelho encontrando-se com o lobo na floresta e a cena em que o lobo se deita na cama, com o capuz de dormir da avó. Teria de haver, portanto, algum outro conto de fadas por trás de sua recordação da figura. Ele logo descobriu que só podia ser a história de “O Lobo e os Sete Cabritinhos”. Nesta, ocorre o número sete, e também o número seis, pois o lobo só comeu seis dos cabritinhos, enquanto que o sétimo se escondeu na caixa do relógio. O branco também nela aparece, pois o lobo fizera branquear sua pata no padeiro, após os cabritinhos haverem-no reconhecido, em sua primeira visita, pela pata cinzenta. Além disso, os dois contos de fadas possuem muito em comum. Em ambos existe o comer, a abertura da barriga, a retirada das pessoas que haviam sido comidas e sua substituição por pesadas pedras, e, finalmente, em ambas o lobo mau perece. Além disso tudo, na história dos cabritinhos aparece a árvore. O lobo deitou-se sob uma árvore, após a refeição, e roncou.

Durante o tratamento, ele se dedicou com perseverança incansável à tarefa de vasculhar os sebos até encontrar o livro ilustrado da sua infância, reconhecendo o seu mau espírito numa ilustração da história de ‘O Lobo e os Sete Cabritinhos’. Achou que a postura do lobo nessa gravura poderia ter-lhe recordado a do pai. Em todo caso, a ilustração tornou-se o ponto de partida.

Este é o mais antigo sonho de ansiedade que o jovem que sonhou recordou de sua infância, e seu conteúdo, tomado juntamente com outros sonhos que o seguiram pouco após e com certos acontecimentos de seus primeiros anos de vida, é de interesse muito especial. Temos de limitar-nos aqui à relação do sonho com os dois contos de fadas que têm tanto em comum um com o outro. “Chapeuzinho Vermelho” e “O Lobo e os Sete Cabritinhos”. O efeito produzido por estas histórias foi demonstrado no pequeno que as sonhou mediante uma fobia animal comum. Esta fobia só se distinguia de outros casos semelhantes pelo fato de o animal causador da ansiedade não ser um objeto facilmente acessível à observação (tal como um cavalo ou um cão), mas conhecido dele somente de histórias e livros de figuras. Observarei apenas, que essa fobia acha-se em completa harmonia com a característica principal apresentada pela neurose de que o atual sonhador padeceu mais tarde na vida. Seu medo do pai era o motivo mais forte para ele cair doente e sua atitude ambivalente em relação a todo representante paterno foi o aspecto dominante de sua vida, assim como de seu comportamento durante o tratamento.

‘Se, no caso de meu paciente, o lobo foi simplesmente um primeiro representante paterno, surge a questão de saber se o conteúdo oculto nos contos de fadas do lobo que comeu os cabritinhos e de “Chapeuzinho Vermelho” não pode ser simplesmente um medo infantil do pai. Além disso, o pai de meu paciente tinha a característica, apresentada por tantas pessoas em relação aos filhos, de permitir-se “ameaças afetuosas”; e é possível que, durante os primeiros anos do paciente, o pai (embora se tornasse severo mais tarde) pudesse, mais de uma vez enquanto acariciava o menininho ou com ele brincava, tê-lo ameaçando por brincadeira “de engoli-lo”. Uma de minhas pacientes contou-me que seus dois filhos nunca puderam chegar a gostar do avô, porque, no decurso de seus ruidosos e afetuosos brinquedos, com eles, costumava assustá-los dizendo que lhes cortaria as barrigas.’

Pra encurtar a história, ao estudar as associações do "Homem dos lobos" durante a sua terapia, Freud chegou à conclusão de que o sonho refletia uma "cena primária" testemunhado pelo paciente, de seus pais tendo relações sexuais.


Adaptação dos textos ‘A Ocorrência, em Sonhos, de Material Oriundo de Contos de Fadas’ (1913) e “História de uma neurose infantil” (1914), de Sigmund Freud.

28 de mai. de 2009

Conte a sua história


uem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopedia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.

Ítalo Calvino (1923 – 1985), escritor.
Fragmento colhido do livro “Seis propostas para o próximo milênio”.

27 de mai. de 2009

Almas como aves

 Margaret Atwood, 69 anos, escritora.


"muito tempo atrás - para ser mais precisa, nos anos 50 – o conhecimento dos contos folclóricos europeus era muito restrito na América do Norte. A maior parte deles era censurada e apenas alguns contos circulavam entre o grande público. Entre esses estavam algumas versões cor-de-rosa de "Cinderela" ou "A Bela Adormecida", histórias que apresentavam heroínas passivas à espera de serem salvas pelo príncipe encantado. É fácil de entender por que muitas mulheres se opuseram a essas histórias, vistas como estímulos à inércia feminina. Mesmo essas poucas histórias chegaram a sofrer censuras. Naquele momento se condenava tudo aquilo que incentivasse ou mesmo reconhecesse as emoções mais sombrias do ser humano. Para as meninas bem comportadas dos anos cinquenta, a principal atração dessas histórias era de fato as roupas das princesas. 

                                                                                           Julien Pacaud


Eu não era uma menina bem comportada nos anos cinqüenta. Eu tinha nascido em 1939, logo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando não era possível varrer as emoções mais sombrias para baixo do tapete. Elas estavam expostas ostensivamente aos olhos de todos: medo, ódio, crueldade, sangue e destruição. Um conto de fadas com alguns corpos desmembrados, não era naquele momento tão ameaçador assim.

                                                                                       
Eu fui exposta a um grande número desses contos em uma idade bastante precoce, antes das versões açucaradas tomarem conta. Quando eu tinha cinco ou seis anos, meus pais me deram de presente um livro com os contos de fadas dos irmãos Grimm. Este não era um livro para agradar às crianças pequenas. Para alguns, acredito, deve mesmo ter provocado terríveis pesadelos. As diversas cenas violentas e assustadoras que apresentavam estavam bem distantes das roupas deslumbrantes e encantadas que agradariam às boas moças.

Mas por que então eram tão atraentes essas histórias? É difícil dar uma resposta definitiva. Com certeza elas não têm qualquer aplicação direta para a nossa vida real. Elas não são muito úteis do ponto de vista prático. Não era para nossa vida exterior que os contos de Grimm se endereçavam, mas para o nosso mundo interno. Estas histórias têm sobrevivido ao longo de tantos séculos e com tantas variantes, porque elas são muito ricas para a nossa vida interior - pode-se dizer que são acolhidas pelo nosso mundo dos sonhos, porque reúnem os pesadelos e o pensamento mágico. Como diz Margaret Drabble, há um mistério em tais histórias que vai muito além do alcance da mente racional.
                                                                                          "Sadistik" album cover

Se me perguntassem que história era a minha favorita não saberia dizer. Pensando hoje, cerca de cinqüenta anos mais tarde, acredito que eram aquelas que tinham pássaros no enredo.

Nos contos de fadas, as aves são mensageiras que conduzem o herói na floresta escura, trazem notícias, aconselham, executam vinganças, como o pássaro na história "O Noivo ladrão", ou as pombas bicando os olhos das irmãs no final de "Cinderela". Tinham ainda aqueles pássaros que se transformavam em gente. Esses eram o meu tipo predileto.

Encontramos muitos pássaros assim em contos dos irmãos Grimm como: "A cotovia que canta e pula", “Jorinda e Joringel” , “Os seis cisnes” , “Os sete corvos” , “Os doze irmãos” . No meu ponto de vista as duas histórias mais impressionantes de metamorfose em pásaros são: “A árvore de Junípero” e “O pássaro de Fichter” . Naquela época eu não sabia nada sobre as muitas lendas em diferentes culturas em que as almas dos mortos se tornam aves de vários tipos. Ainda assim eu já sabia que as pessoas que transformam em aves nos contos de fadas na verdade estavam mortas, e que portanto transformá-las novamente em humanos não era apenas um gesto de metamorfose, mas de ressurreição.
                                                                                    Nicoletta Ceccioli 


Porque é que eu estava interessada em trazer os mortos de volta à vida? A maioria das crianças tem essa preocupação, especialmente quando conhecem alguém que tenha morrido, ou que estejam perto da morte. Sua compreensão da morte não costuma ir tão longe aos reinos abstratos do “não ser”, especialmente tendo sido informadas de que os mortos vão para o céu, ou partem em uma longa viagem, ou ainda se tornam anjos. As crianças foram portanto induzidas a acreditarem que os mortos ainda existem em algum outro lugar.

Ainda assim, a ressurreição é uma idéia que é muito atraente para as crianças. Significa que nada nem ninguém vai ser perdido de uma vez por todas. Então, essa possibilidade de ressureição foi para mim foi o principal apelo de "A árvore de Junípero".


                                                                                          Kelly Louise Judd


Em "O pássaro de Fichter", a menina fica horrorizada ao descobrir que suas duas irmãs foram cortadas em pedaços, mas ela se descobre capaz de montar suas partes de novo no lugar para que as meninas voltem a viver. Já adulta descobri que esse gesto se aproximava de antigos rituais xamânicos de morte e renascimento do norte da Europa.

Por outro lado, a casa do bruxo na “floresta escura” se assemelha ao reino da morte, com o bruxo sendo uma espécie de Hades que rapta a donzela Perséfone. Então o que temos é uma menina que é forçada a entrar no palácio da morte e acaba adquirindo uma nova forma para o corpo (a caveira que ela deixa para trás) e uma forma para a alma (o pássaro). De fato, ela realiza a sua própria ressurreição. É um poderoso façanha, todos devíamos começar a recolher mel e penas de pássaro imediatamente.


                                                                                      David Stoupakis


Porque é que nessas histórias as almas se tornam aves em vez de outra coisa? Eles podem, evidentemente assumir a forma de outras criaturas como sapos, ursos, raposas, árvores, borboletas, e assim por diante. Aves e almas, no entanto, parecem ter uma afinidade natural – talvez pela leveza, pelo vôo, pelas asas, ou pelo canto. Mas todos os animais e as aves nos mitos e na tradição folclórica existem em uma zona de fronteira - a fronteira entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Uma das grandes tarefas dos antigos xamãs era a de conduzirem a alma para fora do corpo, quando ela assumia formas animais e visitava o mundo dos mortos. Para quê? Para reunir informações úteis para o mundo dos vivos e se comunicar com os mortos.


Nathalie Shau


 Essas estórias dos Grimm com metamorfoses de aves são, portanto, parte de uma estrutura muito maior. As irmãs que ter fazem votos de silêncio e costurar para desencantar seus irmãos transformados em aves, ou que entram no escuro mortal das casas de bruxas e feiticeiros a fim de resgatar os seus entes queridos, ou então, para salvar a si mesmos, são herdeiros de uma longa tradição. De acordo com Carlo Ginzburg em "Êxtases: decifrando os Sabás das bruxas", ir para o além e retornar não é apenas um entre muitos motivos do folclore e da mitologia: é o motivo, o "núcleo elementar da narrativas” que tem acompanhado a humanidade durante milhares de anos. A participação no mundo dos vivos e dos mortos, nas esferas do visível e do invisível é um traço distintivo da espécie humana.

Não admira, então, que essas histórias de aves, essas histórias de viagens para o mundo dos mortos, me intrigaram quando criança. Eles são parte da história que tem intrigado a todos nós, como seres humanos, por muito mais tempo do que qualquer pessoa possa se lembrar."



Jenny Bird


Texto adaptado do livro “Mirror, mirror on the wall: women writers explore their favorite fairy tales” editado por Kate Bernheimer – 2nd Anchor Books, 1998.

A primeira imagem é uma colagem minha, as outras foram colhidas de artistas como Polly Morgan, Jenny Bird, Maggie Taylor, Nathalie Shau e David Stoupakis, entre outros artistas que adoro.

O Baguá da Branca de Neve


ejam vocês como são as coisas. Estava eu num misto de sono e impaciência na sala de espera da minha médica essa semana. Eis que eu me deparo com um livro semi aberto sobre a mesa da secretária e eu resolvo dar uma espiada. Não é que justo naquela página que dava pra ver eu enxerguei em itálico as palavras Branca de Neve?
Eis o que estava escrito:

“ ... Finalmente comecei a realizar meu antigo sonho. Sempre adorei arrumar as casas das pessoas. Quando criança, assistia encantada ao clássico Branca de Neve e os Sete Anões. De modo especial, cativa-me até hoje o momento em que ela entra na casa dos anões e coloca ordem na confusão. Arruma tudo, organiza e prepara uma comidinha bem gostosa. Pois é, Branca de Neve faz um maravilhoso Feng Shui no lar de seus amigos.
Meu prazer é justamente esse: criar espaços sagrados onde as pessoas possam viver com alegria, além de ensiná-las a levar beleza e paz para esses ambientes. Prossegui portanto trabalhando com decoração ...”


Silvana Helena Occhialini, consultora de Feng Shui.
Feng Shui – o poder de atrair prosperidade.

24 de mai. de 2009

O Super - anjo


uando tinha 12 ou 13 anos sonhava sempre com meu anjo da guarda, meu primeiro amor. Sempre tive uma relação com os sonhos diferente, me pareciam reais em outra dimensão ou espaço. Tenho sonhos recorrentes, que continuam ou se repetem com o tempo, acrescentando ou alterando situações. Desde criança domava os sonhos vez ou outra, conseguia pará-los, mudar o cenário, a situação, ou acordar (deveria me suicidar no sonho para passar pra outro ou acordar). Às vezes meu sonho me enganava e eu sonhava que estava acordada, mas logo percebia que o quarto estava diferente e tentava novamente acordar. Nunca dissociei muito bem realidade e ficção, minha percepção do mundo é fantasiosa e fabulosa.

De repente, percebi que em momentos em que eu me via em apuros, um garoto aparecia e me salvava, sem me tocar. Ele era formado de outra coisa, diferente dos demais. Diferente também dos mortos, que nos meus sonhos, conseguia separá-los dos vivos - pois conversávamos por telepatia ao invés de usar a voz ou os movimentos da boca.

O garoto simplesmente aparecia e me salvava de monstros, acidentes, perseguições, do escuro, da floresta, da violência da cidade... e desaparecia rapidamente assim que eu estivesse a salvo. Não conseguia me aproximar, era tão rápido que nunca conversamos. Acordava e suspirava lembrando-me de suas feições, mesmo sabendo que estas feições eu havia inventado, que sua forma física eu havia idealizado. Sabia também que cuidar de mim era o trabalho dele, mas adolescentes não sabem que não se deve misturar a vida profissional e a pessoal, mesmo metafisicamente.

E foi assim durante um longo tempo – um romance delicioso, que preenchia todas as aspirações na vida real. Era mágico, contraventor, tinha aventura, bons personagens e figurinos maravilhosos, ritmo e a sensação de ser único e especial – como todos os amores.

No decorrer dos dias e meses eu vivia apenas para esperar a noite, para dormir. Sabia que ele era o meu anjo da guarda verdadeiro, mas que eu conseguia ver apenas nos sonhos. Dentro deles comecei a me aventurar mais, me arriscar, me colocar em apuros... ele sempre aparecia, com muita eficiência, resolvia tudo e desaparecia. Isto se tornou recorrente e desesperador, esperar a noite, esperar o sonho em que ele apareceria. Ficava aguardando o sono, que vinha conturbado e estava sempre aflita quando o dia começava a chegar.

Fiquei perdidamente apaixonada pelo meu anjo da guarda. Havia alegria pelo encantamento da relação e um pouco de tristeza perante sua impossibilidade. Assim me jogava na frente de carros, me deparava com abismos, aproximava-me de monstros e do medo, da morte. Começava a me distanciar dos amigos durante o dia, na varanda da minha casa aguardava o final da tarde e o começo da noite, sonhando acordada com os sonhos dormindo.

Até que a situação ficou desgastada, perigosa. Forças que controlam as coisas começavam a se preocupar e resolveram intervir. Eu estava desafiando demais o que já estava estabelecido, eu não poderia viver nestes dois mundos, então onde este romance iria acontecer? Gostava da minha vida mas gostava tanto dele, queria beijá-lo, abraçá-lo - apenas desejava esse momento sem pensar como poderia acontecer.

E foi assim que um dia, Deus nos concedeu um encontro. Era um não-lugar, um buraco no tempo e espaço, com muita luz e amplidão. Lá estava ele – e eu. Ele me olhou nos olhos e me abraçou, disse que me amava - não da forma como eu entendia como amor ou gostaria que fosse. Disse que gostava muito de ficar comigo (ser meu anjo da guarda) mais que aquela situação havia chegado ao limite: Ele não ficaria mais comigo e Deus enviaria outro anjo em seu lugar.

Chorei, chorei muito, abraçada a ele. Fiquei arrasada e com a fúria insolente dos adolescentes, não quis entender a situação. Voltei a Deus (nos meus sonhos converso com o nada – que é ele) e gritei com muita dor. Disse que - já que não poderia amar e ser amada por aquele anjo - não gostaria de saber quem seria o substituto e nunca mais gostaria de sonhar com isto. Eu e o anjo nos despedimos, acordei aos prantos.

E foi o que aconteceu...


Juliana Freire, 28 anos, artista plástica e galerista.

23 de mai. de 2009

Meu sonho guardado nas estrelas


s contos de fadas que me acompanharam durante minha infância fizeram-me acreditar na magia do amor. Mais precisamente todos aqueles contos onde existe um príncipe encantado a procura de sua amada. Eu sempre achei lindo e fui crescendo com a vontade de viver uma verdadeira história de amor digna de virar conto de fadas. Fui crescendo e acreditando que o verdadeiro amor existe.

Hoje com 28 anos ainda sonho em encontrar meu "príncipe encantado". Mas hoje já aprendi que o príncipe não é um homem perfeito. É sim um amor verdadeiro. Sim, ainda sonho em encontrar meu verdadeiro amor. E viver eternamente ao seu lado.

Eu sou amante das estrelas, adoro ficar deitada ou sentada somente olhando e admirando. Me trás força, me trás paz e me trás a certeza que o amor é capaz de existir. Há muito tempo atrás eu tinha adesivos iluminados em forma de estrelas numa parte do teto do meu quarto. A noite ficava como se tivesse um buraco no teto onde dava a impressão de eu realmente se via as estrelas num céu de verdade. E numa noite eu desejei o homem perfeito pra mim, como seria seu jeito e até mesmo suas características. Fiz o meu pedido.

E dentro de mim eu acreditava que esse mesmo homem estaria em algum lugar olhando as estrelas e pensando em mim. Esse é um segredo meu de menina. Mesmo depois de tanto tempo e tantas decepções amorosas. Meu pedido não foi esquecido. Meu sonho não foi deixado de lado. Hoje me pergunto se perdi a chance de ter encontrado.Ou se contos de fadas não existem. Mas algo me diz que não, que ainda existe um sonho guardado pra mim nas estrelas esperando o momento certo para ser realizado.

Pra mim as estrelas são mágicas.Tenho certeza que ainda vou encontrar o meu príncipe encantado.


Ana Cláudia Abreu, 28 anos, estudante de geologia.

O lobby dos contos de fadas


Boi-da-Cara-Preta-da-Silva caminhou até a janela mais uma vez, irritado pela demora do e-mail daquele felino. O gato do Atirei-um-pau-no-ga-to-to-de-Souza prometeu conseguir as assinaturas de muitas fadas, lobisomens, artistas, para que também eles pudessem entrar para os contos de fadas, ou pelos menos nas fábulas. Mas até agora somente políticos de Brasiliana Tropical assinaram o abaixo-assinado. Mas igual nas CPIs, eles sempre acabam retirando a assinatura.

O Boi-da-Cara-Preta-da-Silva desde o início deste movimento social foi contra o sistema de cotas para os bois pretos, coisa que alguns queriam fazer. Ele acha um absurdo para a educação infantil aquelas mães que cantam para seus filhos aquela música terrorista que diz: “Boi-Boi-da-Cara-Preta, vem pegar essa menina que tem medo de careta”. Isso pode, e também pode colocar a cara dele numa lata de cerveja, e com cara de bravo.

Muitas horas de terapia já foram gastas pela letra dessa música. É injusto. O Boi-da-Cara-Preta-da-Silva quer isonomia, igualdade de direitos e o cumprimento da constituição brasileira. Afinal, a Gata-Borralheira pode aparecer em contos de fadas. E com final feliz. A Bela-Adormecida é despertada por um príncipe que vai montado num cavalo branco. Cavalo pode. Mas Boi-da-Cara-Preta não pode. E muito menos o Boi-da-Cara-Preta-da-Silva, ele.

E existe o Gato-de-Botas, além do fato de muitas princesas terem sempre um gato ao seu lado. Até bruxas, como a Madame Mim tem um gato, o Miaurício. Magos, bruxas, feiticeiros, sempre têm um gato subserviente ao seu lado, usufruindo do poder. É o próprio PMDB. Só a bruxa-feiticeira dançante cantante, Madame Mon, tem quatro cães ao seu lado.

Na história da Chapeuzinho Vermelho tem um Lobo. Tem ainda outro lobo na história dos Três Porquinhos. Ou seja, o lobby dos cães e lobos tem funcionado. E o da Sadia e da Perdigão também, tanto com os suínos quanto com a galinha dos ovos de ouro. Até o lobby dos cavalos obtém resultados. O Pégassus é sustentado pelas escolas de samba e pelo GLS. E os urubus do La Fontaine foram adotados pelo Flamengo.

O Boi-da-Cara-Preta-da-Silva, além do descaso do felino, o de Souza, acha que as divisões internas da sua espécie, com os ramos do Bumba-Meu-Boi e do Boi-Bumbá também atrapalham. Sem contar que o Garantido e o Caprichoso que nunca se largam, mas não se compõe. Isso é igualzinho a um partido político que está no poder. Sempre. Isso é que é conto de fadas.

Os teóricos dizem que nos conto de fadas não precisa ter fadas. Eles são significativos para a criança que ainda não consegue compreender o sentido dos conceitos éticos abstratos. Os contos de fadas mandam à mente da criança, ao seu consciente e inconsciente, a mensagem de que as dificuldades existem, mas que podem ser enfrentadas. As histórias se desenrolam, mostram caminhos para o alívio das pressões psicológicas do ego e mostram que existem caminhos para enfrentar as dificuldades.

E o Boi-da-Cara-Preta-da-Silva continua querendo sair da letra da música, sair do rótulo da lata de cerveja e da quadrilha do Atirei-um-pau-no-Ga-to-to-de-Souza, aquele lobista. O que vale é que no país que vai sediar a Copa de Futebol de 2014 o churrasco que se serve nos estádios é churrasquinho de gato. Em breve os felinos serão apenas gatos-pingados.

Assim, o conto de fadas é uma necessária construção sócio-histórica. É transgeracional e sobrevive principalmente pela história oral. E pelo lobby que patrocina, segundo afirma o Boi-da-Cara-Preta-da-Silva.


Amadeu Roselli Cruz, psicólogo e professor universitário.

22 de mai. de 2009

Por debaixo dos panos


m algum momento no final dos anos 60, eu tive uma boneca que era de um lado Chapeuzinho Vermelho, e do outro lado, o lobo e a avó. Você virava a saia da Chapeuzinho Vermelho sobre sua cabeça e encontrava a avó, cuja toca você desdobrava para revelar a cara do lobo. Eu chegava a ter medo dessa boneca que eu escondia sempre que podia. Alguma coisa me parecia errada em encontrar alguém vivendo debaixo da saia dela. Mas logo depois eu superei e medo e a curiosidade passou a me dominar. Eu ia então atrás da boneca e virava e desvirava sua saia inúmeras vezes. Posso dizer que essa estória nunca deixou de me fazer cócegas. (Nessa época ainda não conhecia “A história da avó”). (...)

Kate Bernheimer

Texto adaptado do livro “Mirror, mirror on the wall: women writers explore their favorite fairy tales” editado por Kate Bernheimer – 2nd Anchor Books, 1998.

A História da Avó

(...) "Tire a roupa, minha criança", disse o lobo, "e venha para a cama comigo."
"Onde eu devo colocar meu avental?"
"Jogue no fogo, minha criança. Você não vai precisar mais dele."
Quando ela perguntou ao lobo onde colocar todas as outras coisas, o corpete, o vestido, a saia, as meias, cada vez ele dizia: "Atire ao fogo, minha criança. Você não vai precisar mais deles." (...)

A dama e a vagabunda


u me apaixonei pelos contos de fadas ainda muito jovem. Tive muitas bonecas de pano e insistia em chamá-las de Elizabeth, ou Ella pra encurtar, que rimava com Cinderella. Por muitos anos insisti em ser Cinderella no Halloween, mas ela antes da transformação. Eu ia no quintal e sujava meu cabelo e rasgava um vestido de festa (eu pensava que seria mais autêntico se minhas roupas fossem maltrapilhas, assim como as roupas dela). Minha irmã mais velha teve também sua obsessão com contos de fadas, mas de uma forma diferente. Ela foi uma noiva por nada menos que seis Halloweens. Eu posso até estar exagerando, mas isso é assim a história ficou na minha memória. (...)

Kate Bernheimer

Texto adaptado do livro “Mirror, mirror on the wall: women writers explore their favorite fairy tales” editado por Kate Bernheimer – 2nd Anchor Books, 1998.

Sede de Rapunzel


a minha infância tinha uma sede enorme de saber sobre a história da Rapunzel. Não tinha o livro em casa e minha mãe não lembrava bem da história... Cada vez que ela me contava era de uma forma diferente.
Passei tempos com vontade de conhecer a verdadeira versão. Até que acabou caindo no esquecimento.

Anos e anos se passaram e eu tive uma filha que se encantou, dentre outras, com a história da Bela e a Fera. Através dela conheci o mundo mágico e belo desse conto. Emocionava-me cada vez que chegava a parte em que Bela percebe que a Fera conseguiu conquistá-la realmente. É uma história tão bem elaborada e tão rica em detalhes, que me faz viajar.

Essa história, diferente das outras mais conhecidas sobre princesas, mostra uma moça que quer ser alguém além de uma passiva "esposa do príncipe". Ela é interessada em literatura e artes em geral, como seu príncipe, que cada vez mais tenta se superar para conquistar o amor da princesa e "quebrar o encanto" que o aprisiona no corpo de uma fera. Acredito que é um dos contos que mais estão em sintonia com a atualidade!


Daniela Roxo, 37 anos, publicitária.

Cinderela no século XXI


inderela é uma histórias que ouvimos, nós meninas, desde cedo. Muitas continuamos um pouco Ciderelas, mesmo algum tempo depois... Pensar em Cinderela hoje é pensar numa mulher não tão passiva, à espera do príncipe. É pensar em uma mulher que vai à luta, não se deixa submeter. Ainda assim, é preciso que o príncipe nos encontre, e que encontremos o príncipe. Pensamento romântico por excelência, que não deixa de povoar a mente de meninas e algumas mulheres até o século XXI. (...)

Fragmento colhido do livro “Era uma vez – Irmãos Grimm: Histórias recontadas por Kátia Canton".

Anna Kesselring, 48 anos, artista plástica.

21 de mai. de 2009

A menina e a figueira



u escutei esta história quando era adolescente (nem foi minha avó quem me contou!) e fiquei bastante impressionada... Mexeu muito comigo, de verdade. Além disso, eu adorava a canção que tinha bem no meio dela. É uma história que faz parte da cultura popular; um conto de encantamento...

Outro dia, minha mãe foi me ouvir em uma das apresentações como contadora de estórias. Eis que me deu um troço, e fiquei com vontade de contar a dita cuja! O fato é que minha mãe chorou muito e disse que jamais esquecerá da emoção que eu lhe transmiti, enquanto contava a história. Fiquei também muito emocionada! Espero que goste.

A menina e Figueira
Era uma vez, um senhor viúvo, que tinha uma filha muito bonita, com os cabelos longos e da cor do ouro. Sua mãe em vida, penteava e cuidava dos seus cabelos como se realmente fossem fios de ouro.
Na vizinhança morava uma moça que queria se casar com o pai da menina e, por isso, fazia-lhe tantos agrados, que ela chegou ao pai e lhe disse:
- Meu pai, por que você não se casa com a vizinha? Ela é tão boa para mim! Todos os dias quando vou a sua casa, ela me dá pão com mel.
- Minha filha, quando ela se casar comigo, lhe dará pão com fel.
Mas a menina não acreditava, e tais agrados a moça lhe fez que o pai acabou se casando com ela.
Depois do casamento, a madrasta começou a maltratar a menina, castigando-a pela falta mais insignificante.
O marido tinha no jardim uma enorme figueira, e a pequena era obrigada a vigiá-la o dia todo, para que os passarinhos - seus amigos - não comessem os figos e quando isto acontecia, a madrasta batia-lhe sem piedade.
Aconteceu, um dia, que os pássaros comeram os figos, e tendo viajado o marido, a madrasta enterrou a menina num capinzal que havia no jardim.
No dia seguinte, o marido chegou e procurou a filha; a madrasta disse-lhe que havia desaparecido.
Mais tarde, o jardineiro foi cortar capim para dar ao cavalo e ao passar a foice no capim, ouviu este canto triste e se pôs a escutar:

Jardineiro de meu pai
Não me corte os meus cabelos,
Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou,
Pelos figos da figueira que o passarinho bicou.
Xô passarinho, xô passarinho, da figueira de meu pai.

Então o jardineiro foi contar ao patrão o que acabara de ouvir. Este foi ao capinzal, mandou o jardineiro passar a foice no capim, e novamente ouviram o canto.
Reconhecendo a voz da filha, mandou o jardineiro cavar a terra e, encontrando a menina ainda com vida, levou-a para casa. Botou a mulher para fora e não quis mais saber dela ficando só com a filha.
Era uma vez a vaca Vitória. Caiu no buraco; depois vem outra história...


Débora Kikuti, 40 anos, contadora de histórias.

Blog da Débora

Fairyland


y introduction to Fairyland, in all its numerous manifestations, came through the now sadly out-of-fashion English writer, Enid Blyton. My father taught me to read before I started school, and I quickly exhausted the limited supply of ‘suitable’ books in our tiny little house and wanted more. So one glorious day, I was wrapped up in my 1950s duffle coat, and marched down to the local library, which had a children’s section in a side room; it seemed immense to me at the time, and I thought there could not be so many wonderful books in the world, although I believe now that I probably have more volumes on my own shelves than there were in that bright and airy little room.

In those days, Enid Blyton was a hugely popular author for children, and her countless works out-numbered those by other writers as I scoured the library bookshelves. She was able to write for any age of child, and her different series of books took me from pre-school days (with Noddy and his Toytown chums) to my early teenage years, when I was hooked on ‘The Famous Five’ and the various ‘Adventure’ stories.

But the books that affected me most deeply and most permanently were the three about The Magic Faraway Tree. This was a tree in an enchanted wood, inside of which lived all manner of fairies and elfs and other eccentric creatures. Most magically of all, if you climbed to its very top, you would gain access to a different land, but the lands themselves moved around, so each one was only there for a short period of time, and you had to get back to the tree before it moved, or you would be trapped there for ever. Some lands were lovely, and others were less so. They included Nursery Rhyme Land, The Land of Tea Parties, The Land of Know-alls, The Land of Treats, The Land of Spells, The Land of Dreams, The Land of Do-What-You-Please, and many others. In each chapter of the three books, the child heroes and heroines would climb the tree, have an exciting adventure in the marvellous land, and be home safely in time for tea, often having learnt an important life lesson as a result of their experiences. Even now, I find it hard to think of a more versatile and imaginative premise for a book for children.

Although I eventually outgrew the Faraway Tree, it left me with a love of magical worlds, and specifically of magical worlds that could be accessed from our own mundane one. Not for me the self-contained and self-sustaining universes of Middle-Earth or Discworld; my love is for lands like Wonderland and Oz and Neverland and Narnia, worlds that I might one day discover myself, stepping out of my front door and tumbling down a rabbit hole or being whisked away by a cyclone. A few years ago, I was driving along a motorway when I came upon a stretch of road where a builder’s lorry had spilt some of its sand, and turned the road yellow. Just for a moment, the little child inside me grew excited, and shouted out to follow the yellow road because it would take me to Oz.

And that is the effect Enid Blyton’s Magic Faraway Tree had on my life. Even now, I always think there could be a Fairyland round the next corner. And even now, I keep seeking it.


Michael O’Connor, 55 anos, editor e escritor, Inglaterra.

Site do Michael

Elogio à concisão

Agora estou colecionando também depoimentos de escritores sobre a importância dos contos de fadas em suas vidas e em suas obras. Aceito colaborações.


e num determinado período da minha atividade literária senti certa atração pelos contos populares e as historias de fadas, isso não se deveu à fidelidade a uma tradição étnica ( dado que minhas Raízes se encontram numa Itália inteiramente moderna e cosmopolita), nem por nostalgia de minhas leituras infantis (em minha família as crianças deviam ler apenas livros instrutivos e com algum fundamento científico), mas por interesse estilístico e estrutural, pela economia, o ritmo, a lógica essencial com que tais contos são narrados. Em meu trabalho de transcrição de fábulas italianas, que fiz com base em documentos de estudiosos de nosso folclore do século passado, encontrava especial prazer quando o texto original era muito lacônico e me propunha a recontá-lo respeitando—lhe a concisão e procurando dela extrair o máximo de eficácia narrativa e sugestão poética. Por exemplo:

"Um Rei adoeceu. Vieram os médicos e disseram: “Majestade, se quereis curar-vos é necessário arrancar uma pena do Ogro. É um remédio difícil de arranjar, pois o Ogro come todos os cristãos que encontra.
O Rei falou a todos mas ninguém se prestou a ir. Pediu a um de seus súditos, muito fiel e corajoso, e este disse: “Eu vou”. Mostraram-lhe o caminho: “Em cima de um monte há sete cavernas; numa delas está o Ogro.”
O homem lá se foi e a noite o surpreendeu no caminho. Parou numa hospedagem..." (Fábulas Italianas, 57)


Nada se informa sobre a doença de que sofre o Rei, de como será possível que um Ogro tenha penas, ou como podem ser tais cavernas. Mas tudo que é nomeado tem uma função necessária no enredo. A principal característica do conto popular é a economia de expressão: as peripécias mais extraordinárias são relatadas levando em conta apenas o essencial; é sempre uma luta contra o tempo, contra os obstáculos que impedem ou retardam a realização de um desejo ou a restauração de um bem perdido. O tempo pode até parar de todo, como no castelo da Bela Adormecida, bastando para isso que Charles Perrault escreva:

“(...) até mesmo os espetos no fogo, cheios de perdizes e faisões, haviam adormecido e bem assim o fogo. Tudo isso aconteceu num breve instante: as fadas não perdiam tempo no executar dos seus prodígios.”

Ítalo Calvino (1923 – 1985), escritor.
Fragmento colhido do livro “Seis propostas para o próximo milênio”, p.50

Mínima estória






quando eu acordei, o lobo mau ainda estava lá...