17 de mai. de 2009

Angústias


ozinho em uma noite fria no quarto de um prédio de periferia uma pesada sensção de vazio dominava meus sentimentos. Um copo de vinho barato e um computador de segunda mão ajudava a passar o tempo. Pensamentos vagavam pela cabeça sem fixarem-se em nada de interessante e o olhar passeava pela tela sem encontrar qualquer coisa que despertasse a atenção. Eis que, de repente, uma proposta inovadora se destacou em uma infinidade de coisas desinteresssantes: buscar no passado histórias infantis que tivessem, de algum modo, marcado sua vida ou fossem alvo de boas recordações. Por que nâo? Se o futuro nada prometia, por que não voltar ao passado para buscar alguma inspiração? Já havia passado muito tempo sem que tivesse me preocupado com isso e a memória não ajudava a recuperar algo que fosse interessante. Passado alguns minutos duas histórias muito conhecidas e repetidas pipocavam em minha mente - os 3 porquinhos e a cigarrra e a formiga. Por que, raios, só me contavam histórias com subliminares mensagens de ensinamentos morais: responsabilidade, trabalho e prudência. Talvez por isso tenha me rebelado e me tornado um cantor de tango. Pouco trabalho, muita festa e alegria. Afinal sempre achei que a cigarra era mais interessante que a formiga e que o lobo era um personagem menos perigoso que os porquinhos ( a gripe suina está aí para confirmar). Mas, para que fui seguir o que a proposta me recomendava? A lembrança me deixou ainda mais deprimido. Agora que os amantes da boa música estão desaparecendo não há mais emprego para cantores de tango. Sem dinheiro e sem perspectiva, o retorno ao passado aumentou o vazio. Resta ao menos encher o copo de vinho e me esquecer dessas histórias e de suas lições.

Ramón Vargas, cantor de tango, 61 anos, aposentado

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