11 de mai. de 2009

Manchas na parede


a minha casa, quando eu era criança, tinha poucos brinquedos mas Muitos livros. Livros de fantasia, livros de mitologia, livros de conto de fadas. Agente mesmo viajava criando nossas próprias historinhas. Adorava Andersen e os irmãos Grimm, com muitas histórias brutais e horrendas, muito diferentes dos desenhos da Disney. Eu adorava isso. Achava bacana pois nem todas as histórias tinham final feliz. Como o caso das irmãs da Cinderela que mutilaram os pés para calçarem o sapatinho encantado e tiveram os olhos arrancados no final.

Mas a minha estória preferida de todas foi por muito tempo João e Maria. Isso começou na época em que passamos necessidade lá em casa e eu me sentia como os dois meninos pobres e desamparados. Eu também sonhava encontrar uma casinha de doces como aquela. Mas eu saia na rua e só via cascalho.

Nossa imaginação era estimulada de muitas formas, naquela época agente não era tão envolvido com televisão. O quintal, por exemplo, era um encantamento só. Dia de chuva não dava pra brincar lá fora. Agente lia. Lia e admirava aquele mofo mágico que subia pelas paredes. Em suas manchas avistávamos um lindo bosque sob a neblina.
Será que ainda faz sentido falar em floresta para as crianças de hoje?


Rodrigo Alvarenga, 31 anos, embusteiro e contador de histórias.

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