12 de mai. de 2009

Uma história sem fim


ão sou tão moderno quanto pareço, se é que pareço moderno, quando na verdade isso também não passa de mais uma daquelas ilusões que arbitrariamente criamos para nos proteger do ameaçador cotidiano banal que nos cerca. Talvez por isso, em função desse medo, quando pequeno gostava muito de ouvir histórias, aquelas que só nossas mães sabem contar, e num sortilégio das muitas que ouvi guardei, não sei por que exatamente, as passagens de um conto de uma menina mimada e seu tourinho branco.

O enredo simples ficava, a cada vez que eu ouvia o conto, mais e mais fantástico. Não sei se por truques da minha imaginação, ou se por criatividade da minha mãe. A mesma história era sempre uma nova história, que narrava as aventuras da filha de um grande proprietário de terras viúvo, que para salvar um tourinho que lhe foi dado por sua mãe no leito de morte, das garras de sua ambiciosa e invejosa madrasta, foge com o animal encantado. No entanto, a madrasta mantinha pactos malignos com monstros, que por sua vez travavam sangrentas batalhas com o pobre tourinho.

A cada noite a menina fugia no lombo de seu precioso animal até certo ponto, onde eram obrigados a atravessar pequenas e estreitas pontes, passagens, passarelas, como o máximo de cuidado possível, evitando assim que o monstro responsável pela guarda do local despertasse. Infortunadamente, no meio da travessia, sempre algo dava errado, a menina espirrava, ou seu sapatinho caia, ou seu vestido grudava nos pontiagudos arames da cerca. Então o tourinho era obrigado a travar aquela batalha contra os seres mais assustadores, ficava cada vez mais fraco, ainda assim prosseguia sua jornada.

Não me recordo do fim desse conto, não sei se chegou a existir um fim, ou simplesmente deletei essa informação. Mas guardei essa história, talvez por ser uma história de amizade, talvez por se tratar de uma aventura. Talvez pelo medo que sentia ao ouvir determinadas passagens. Ou talvez simplesmente por gostar de ouvir minha mãe contando histórias. Não sei. O fato é que esse conto continuará guardado aqui, bem dentro de mim, como uma espécie de elo eterno entre eu, minha infância e minha mãe.


Diego Krisp, 23 anos, ator.

Blog do Diego

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