beleza e o horror do pé de junípero, com seu principio extraordinário e trágico, o abominável cozido canibalesco, os ossos repulsivos, o alegre e vingativo espírito do pássaro que emerge de uma nevoa que se erguia da árvore, permaneceram comigo desde a infância, e no entanto sempre o principal sabor dessa história presa na lembrança não foi a beleza nem o horror e sim a distância e um grande abismo de tempo. Sem o cozido e os ossos – de que as crianças de hoje são muito frequentemente poupadas em versos suavizadas dos Grimm – essa visão teria se perdido em larga medida. Não penso que fui prejudicado pelo horror no ambiente dos contos de fadas, não importa de que obscuras crenças e práticas do passado ele possa ter vindo. Tais narrativas têm agora um efeito mítico e total... elas abrem uma porta para um outro tempo, e se a atravessarmos, nem que seja por um momento, estaremos fora de nosso tempo, talvez fora do próprio tempo.
Tolkien
Entre as leituras por excelência para crianças constam contos de fadas (...) o mergulho nesse mundo mágico não é sentimental ou vago; desemboca numa percepção precisa do cotidiano. Esse universo lúdico e de magia não tem nada a ver com a romantização do mundo feita em nome dos contos de fadas pelos adultos. O mundo autêntico dos contos não é idílico, é belo e cruel. Suprimir nos contos o canibalismo, ou modernizá-los para um mundo de fábricas e de concreto armado ou ainda adaptá-los às necessidades humanas, como querem certos pedagogos, liquida com essa forma de cultura.
“Sempre em busca de objetos curiosos, restos de brinquedos, cacos de mundos e rastros de histórias, Adriana Peliano costura desejos, monstros e contos de fadas. Suas colagens, metamofoses e assemblagens despertam inventários mágicos e múltiplos, onde a lógica do cotidiano é reinventada em novos sentidos e narrativas, criando jogos de linguagem e labirintos de sonhos. Tudo se transforma para contar novas histórias, abrindo portas para o maravilhoso.”
“Always in search of curious objects, broken toys, bits of things and traces of stories, Adriana Peliano stitches together desires, monsters and fairy tales. Her collages and metamorphic assemblages are magical and multiple inventories, where logic is reinvented with new meanings and narratives, creating language games and dream labyrinths. Everything is transformed to tell new stories that dislocate our way of seeing, inviting the marvellous to visit our world.”
puts, nunca vi os contos de fada sob esse ponto de vis, mas o seu blog e muito bom abraços, virei sempre aqui agora
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