u sempre me senti como Cheherazade, a moça esperta das mil e uma noites. Não porque sou esperta, mas porque de algum modo sempre soube que contar histórias me salvava de perder não a cabeça, como era o caso de Cheherazade, mas de perder a mim mesma. Quando era muito pequena e ainda não sabia ler, imaginava histórias para escapar do medo do escuro. Contava para mim mesma na minha cama de bebê crescido. Quando entrei na escola, imaginava enredos que me carregavam para além das crueldades infantis que me aterrorizavam tanto ou mais que os monstros noturnos. Quando cresci virei jornalista e passei a contar histórias reais para poder viver. Sempre soube que contar histórias me salvava da versão adulta do medo do escuro. Agora, que sou gente grande, contar histórias ordena o caos da vida, me dá sentido e identidade.
Eliane Brum, jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário