1 de ago. de 2009

A dança da morte

lá Adriana, conheci o seu blog e me encatei com o que vi.

Com 41 anos e ainda que bem velhinha para acreditar em contos de fadas, confesso: eu acredito. Acredito sobretudo que a literatura ilumina os caminhos obscuros da nossa chamada vida real.

Na UFPA desenvolvo um trabalho com literatura oral, vem daí o encanto pelos contos de fadas, lendas, fábulas, etc. Por isso lhe escrevo, para contar uma das histórias que a minha mãe contava a mim e meus irmão para dormir. Era mais ou menos assim:


MAIS UMA HISTÓRIA DE MARIA

Maria morava em uma pequena cidade, com sua mãe, seu pai e sua irmã.
Uma noite Maria resolveu ir à uma festa. Escondida de sua mãe, Maria se vestiu e da sua casa saiu.
Dançou a noite quase toda com um estranho e esse estranho lhe disse que na noite seguinte iria até a sua casa buscá-la.
Maria sentiu muito medo, pois na mesma noite ela descobriu que o estranho com quem ela dançara era a Morte. E que iria buscá-la em sua casa na noite seguinte.
Arrependida de ter desobedecido as ordens da mãe, Maria ansiosa, temia a chegada da noite e com ela a chegada da Morte para levá-la.
Naquela noite, Maria foi deitar mais cedo, a mãe estranhou, mas nada disse. E Maria se embrulhou dos pés a cabeça. E ainda que estivesse toda agasalhada, Maria tremia, de medo...
Chegando a hora prometida, Maria, somente Maria ouvia uma voz que dizia:
_ Maria, estou na calçada da tua casa.
_ Maria estou no pátio da tua casa.
_ Maria, estou na sala da tua casa.
_ Maria estou no quarto dos teus pais.
_ Maria estou no quarto da tua irmã.
_ Maria estou no teu quarto.
_ Maria estou debaixo da tua rede...
_ ...E TE PEGUEI.


Era o grito minha mãe finalizando a história que deveria nos fazer dormir. Mas agora, nós, meus irmãos e eu nos imaginávamos no lugar da Maria. E o medo nos fazia companhia... Todas as noites ouvíamos a mesma história e todas as noites era o mesmo medo dentro de nós.

Obrigada Adriana por dividir a sua visão artística com os que estão tão distantes.

Giselle Ribeiro, 41 anos, poeta, colagista e professora de Teoria Literária na Universidade Federal do Pará.

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